quinta-feira, 7 de setembro de 2017

POR QUE A BANDEIRA DOS ESTADOS CONFEDERADOS CAUSA TANTA POLÊMICA NOS EUA?

Usada pelos Estados do sul do país durante a Guerra Civil, a bandeira voltou a ser alvo de polêmica depois de aparecer em fotos do atirador Dylann Roof, acusado de matar nove pessoas em uma histórica igreja da comunidade negra na cidade de Charleston. O crime teria sido motivado por ódio racial.



Sob aplausos, a governadora Nikki Haley solicitou a "retirada de um símbolo que nos divide", medida que poderá ser votada nesta semana. Os Filhos de Veteranos Confederados, organização formada por descendentes de combatentes da guerra civil, reagiu, dizendo que lutará contra as tentativas de retirar a bandeira. O grupo afirma não se tratar de um símbolo de ódio racial, mas de sua história e herança cultural.

Em entrevista a jornalistas, Haley afirmou entender o argumento da organização, mas disse que, para muitas pessoas, a bandeira é um "símbolo profundamente ofensivo de uma opressão brutal". Durante a guerra civil, os Estados Confederados buscaram independência para impedir a abolição da escravatura.

Origem

No entanto, a bandeira estampada hoje em camisetas, adesivos e em algumas casas ─ às vezes acompanhada pela mensagem "se esta bandeira te ofende, você precisa de uma lição de história" ─ não era originalmente e nunca foi a bandeira oficial desses Estados.

Criada por William Porcher Miles, que presidia o comitê responsável pela bandeira, ela foi rejeitada como a bandeira nacional da confederação formada pelos Estados do Sul em 1861, em favor de outra conhecida como bandeira das "barras e estrelas". Contudo, acabou adotada como uma bandeira de guerra pelo Exército da Virgínia do Norte, a principal força militar dos Estados Confederados, tornando-se um símbolo do nacionalismo no qual se baseava o movimento.
Polêmica

Segundo David Goldfield, autor de "Still Fighting The Civil War" ("Ainda lutando a Guerra Civil", em tradução livre), o debate em torno da nova bandeira, em 1862, deixava claro que a confederação buscava um símbolo da supremacia branca e de uma sociedade dominada pela escravidão. Depois da guerra, a bandeira foi usada em comemorações e reuniões de soldados, mas, para os negros, "trata-se de um legado de ódio", diz Goldfield, porque foi adotada por grupos como o Ku Klux Klan e outros que defendiam a segregação racial.

Segundo Bill Ferris, diretor do Centro de Estudos da Cultura Sulista da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, a bandeira é hoje comparável à suástica, símbolo do nazismo. Ferris lembra que, em 2001, o Estado da Geórgia mudou o desenho de sua bandeira após 45 anos por causa da pressão pela retirada do símbolo dos Estados confederados. Segundo o especialista, o "sul está mudando com o crescimento da população negra, hispânica e asiática, e a bandeira da Confederação não cabe mais nesse mundo".


Na Carolina do Sul, só a Assembleia Legislativa poderá removê-la, segundo um acordo feito em 2000, quando foi retirada do topo do prédio onde funciona a sede do governo para o memorial onde se encontra hoje. Uma votação pode ser realizada nesta semana sobre o assunto e dar fim a um debate de anos sobre o local de destaque dado à bandeira. "Os atos de violência aterrorizantes da semana passada abalaram os habitantes da Carolina do Sul", disse o republicano Jay Lucas, líder da maioria na câmara. "Para que o Estado possa superar esta tragédia, precisamos de uma solução rápida para esta questão."

Segundo o prefeito de Charleston, o democrata Joseph Riley, "grupos de ódio se apropriaram da bandeira". "Não podemos colocá-la em um espaço público onde ela pode servir de combustível para pessoas repletas de ódio."

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