domingo, 8 de fevereiro de 2015

APÓS ÊXODO E FALÊNCIA, DETROIT ENSAIA RESSURREIÇÃO

Em uma fria tarde de sábado, centenas de pessoas lotam o ginásio da Escola Secundária de Mumford, em Detroit. A imensa maioria delas tem em mãos papéis na cor laranja. Elas estão aqui para comprar terrenos vazios localizados perto de suas casas por um valor módico: US$ 100 (R$ 278). Trata-se de uma tentativa do novo prefeito, Mike Duggan, e do conselho municipal de encontrar novos donos para as dezenas de milhares de propriedades abandonadas pela cidade.

Dezenas de milhares de propriedades  estão abandonadas em Detroit.
Os lotes vazios são uma das memórias mais dolorosas da classe média que prosperou em meio ao boom da indústria automobilística de Detroit. Isso antes das demissões, que culminaram em centenas de milhares de pessoas abandonando a cidade. Como resultado, bairros inteiros ficaram "às moscas".A americana Sheryl Shockley mostra documento de compra de imóvel abandonado ao lado de sua casa

Foi um êxodo sem precedentes. Desde 1960, a população da cidade caiu de 2 milhões de habitantes para os atuais 700 mil. E, quando se imaginava que nada de pior pudesse mais acontecer, há um ano e meio, as autoridades de Detroit declararam a cidade falida.

Desde 1960, a população de Detroit caiu de 2 milhões de habitantes para os atuais 700 mil.
Mas com o placar eletrônico do ginásio da escola registrando o número de lotes vendidos, há uma sensação palpável aqui que aponta para um novo 'recomeço'. A americana Sherry Shockley, moradora de Detroit, comprou um dos lotes. Há 15 anos, ela cuida do terreno abandonado ao lado de sua casa. "Quando comecei a cuidar desse terreno, não havia árvores ─ agora, elas estão da mesma altura que edifícios", diz ela. Sherry reconhece que os últimos anos têm sido difíceis, à medida que as finanças da cidade entraram em colapso e serviços básicos, como a polícia, sucumbiram à má administração crônica dos políticos locais. "Lutei contra as gangues que queriam depredar a casa ao lado", conta. "Tinha que sair na rua e gritar: "Vocês não vão danificar o meu bairro", relembra. Mas hoje é diferente. "Tenho um sentimento de que há uma nova sensação de segurança na cidade."

Detroit antes e depois.
Um ano e meio atrás, a outrora capital mundial da indústria automobilística americana parecia ter ficado sem combustível. Detroit era uma cidade assustadora e escura ─ literalmente, uma vez que apenas 40% de todo o equipamento de iluminação pública funcionava. A cidade se sentia abandonada – sensação compartilhado por aqueles que permaneceram, muitos dos quais encaravam a declaração de falência como uma tentativa do Estado de Michigan e dos credores da cidade de finalmente apagá-la do mapa. Quando eu estive aqui no início do processo de falência em outubro de 2013, centenas de moradores tomaram as ruas, gritando "bancos resgatados, Detroit abandonada", em alusão à decisão do governo americano de socorrer instituições financeiras fortemente abaladas pela crise de 2008.

Fonte: BBC.

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