segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

FUNK OSTENTAÇÃO DANDO O QUE FALAR NOS EUA

O jornal Los Angeles Times divulgou uma matéria onde abordava a exaltação consumista em letras de música do chamado funk ostentação. A matéria compara a ascensão do funk ostentação com o hip-hop estadunidense nos anos de 1990 e avalia que no Brasil, onde milhões de pessoas saíram da pobreza após o país passar por um boom alimentado pelas vendas de commodities para a China, esse estilo de vida consumista é um fenômeno relativamente novo para o cidadão comum.

A matéria usa como exemplo o caso do MC Guime que, coberto de tatuagens e jóias de ouro, exalta em suas letras o consumo desenfreado, em contradição com a origem musical do funk, que nasceu nas favelas brasileiras. O jornal conta que MC Guime está se tornando o novo rosto famoso do funk ostentação, uma nova versão do ritmo popular que entra em cena substituindo abordagens de criminalidade, pobreza e protesto social por uma celebração do consumismo.

Mc Guime.
Em entrevista ao jornal, MC Guime, que nasceu em uma família pobre na periferia de São Paulo, disse entender os críticos da vertente musical, mas diz que o problema é maior. Para o cantor, antes de criticarem os divulgadores do funk ostentação, deveriam se preocupar com a televisão e a publicidade que vendem o tempo todo esse estilo de vida onde, segundo ele, é preciso ter um bom carro e roupas de grife para ser respeitado.

O Los Angeles Times aponta ainda que o funk é um segmento musical frequentemente desprezado, muitas vezes abertamente, pelas elites econômicas e que durante grande parte de sua existência teve suas letras focadas em relatar a realidade de pobreza, de protesto social e a criminalidade nas favelas.

De acordo com o veículo, essa exaltação de gastos através de um ritmo musical mais popular gerou incômodo em alguns segmentos, desde classes mais altas até membros de alguns movimentos sociais de esquerda.

O jornal conta que alguns representantes desses movimentos sociais tradicionais não apoiam essa exibição de riqueza. Rafael Ambrosio, integrante do coletivo Davila em São Paulo, acredita que as letras do funk ostentação não possuem relação com a vida das pessoas dessas regiões carentes e que acabam criando ilusões para crianças que sequer tem dinheiro para comer, mas que passam a desejar carros de auto custo.

Contudo, MC Guime junto do popular rapper Emicida argumentam no clipe musical “País do Futebol” que a música é agora, assim como os esportes sempre foram, uma maneira dos mais pobres ascenderem sem precisar se voltar para o crime.

Rolezinho em shopping.
Ainda de acordo com o jornal, outra reação negativa veio de classes econômicas tradicionalmente mais abastadas do Brasil, que se sentiram desconfortáveis em começar a dividir espaços elitizados com essa população historicamente excluída. A matéria abordou o caso dos rolezinhos que ocorreram em dezembro, onde grupos de jovens organizaram passeios a shopping centers vestindo suas melhores roupas de marca ao som de funk. Os shoppings impediram a entrada desses grupos e essa situação gerou um forte debate sobre preconceito sócio-econômico e racismo.

A matéria comenta ainda que as músicas são resultantes da combinação de aumento do poder de compra e alienação cultural. Segundo o texto do Los Angeles Times, setores da sociedade começaram a poder comprar mais do que apenas o mínimo necessário, e começou a consumir o que era antes considerado supérfluo. Mas que, apesar disso, essa ascensão não foi acompanhada de políticas que aumentem a reflexão crítica dessas classes em relação ao consumo.

Clique aqui para ler a matéria original do Los Angeles Times (em inglês).

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